SETE PERGUNTAS PARA: Lígia Mantovani, delegada de Mateus Leme

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A série “Sete Perguntas” traz esta semana a delegada Lígia Barbieri Mantovani. Natural do Rio Grande do Sul, ela é bacharel em Direito e veio para Minas atuar na Polícia Civil. Já foi responsável pela delegacia de Rio Pardo de Minas e hoje responde por Mateus Leme e Florestal. Lígia iniciou sua carreira pública aos 20 anos como escrevente, logo após assumiu o cargo de assessora do Ministério Público e, em sequência, oficial de justiça do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.

Desde sua chegada a Mateus Leme, a delegada tem se destacado em operações de repercussão estadual. Além disso, ela tem acompanhado de perto as estatísticas da criminalidade no município a fim de traçar estratégias eficazes para combate a violência na região, em parceria com a Polícia Militar. E os números têm sido positivos.

A cidade registrou redução significativa de crimes violentos, como homicídios; foram cinco ocorrências de janeiro a julho de 2020, enquanto o mesmo período em 2019 já acumulava 11 mortes. Os roubos e furtos também tiveram queda de 39% e 11%, respectivamente. No ano passado foram registrados 71 roubos, já neste ano foram 51.

O tráfico de drogas, considerado por Lígia como um dos maiores desafios da segurança em Mateus Leme, teve aumento de 17%, passando de 52 registros em 2019 para 62 neste ano. Outro tipo de crime que cresceu 15% foi a violência doméstica, com 169 casos em 2020 e 169 no mesmo período do ano anterior.

Em relação à violência contra criança e adolescente, entre janeiro a julho de 2019, foram registradas 21 ocorrências no total, envolvendo maus tratos, abandono e estupro de vulnerável. Neste ano, foram contabilizadas somente seis ocorrências, uma diminuição de três vezes e meio.

1. Você chegou a Mateus Leme em abril, mas o trabalho que vem desenvolvendo na região, junto com sua equipe, tem ganhado destaque. Voltando um pouco ao início da sua carreira, qual momento foi decisivo para você escolher ser delegada e o que te chamou para seguir esse caminho? Como foi sua trajetória até aqui?

Desde o início da faculdade de Direito eu já queria prestar concurso público, tanto que passei em meu primeiro concurso como servidora do poder judiciário, quando ainda estava cursando o 9º período da faculdade. Durante os estudos e após ter trabalhado, tanto no Judiciário quanto no Ministério Público, notei que a função com a qual mais me identificava é a de delegada de polícia, pelo fato de ser mais dinâmica, agitada e investigativa. Então, foquei os estudos para o cargo de delegada e fui aprovada em três concursos públicos para o cargo nos estados de Minas Gerais, Mato Grosso e São Paulo. Optei por Minas Gerais.

2. Além dos bons resultados, Dra. Lígia, você também chama atenção por ser uma das poucas delegadas à frente da Polícia Civil na região, o que a torna também uma referência para outras mulheres. Você já enfrentou alguma dificuldade por ser mulher? Na sua opinião, qual é o perfil e quais características são importantes para alguém que pensa em ser delegado se identificar com a profissão?

A atividade policial ainda é predominantemente masculina; em todos os lugares que trabalhei o número de homens sempre foi muito superior. A dificuldade inicial é normal e dura pouco, até o momento que você consegue demonstrar sua competência. Quando consegui demonstrar à equipe competência, determinação e firmeza, todos os obstáculos ficaram para trás. Tenho minha equipe como meus amigos e juntos fizemos sempre um bom trabalho.

3. Antes de Mateus Leme, você atuava no norte do estado, em Rio Pardo De Minas. Consegue fazer um paralelo entre as duas regiões, suas peculiaridades e desafios?

Minha primeira lotação foi Rio Pardo De Minas, é completamente diferente de Mateus Leme. Lá, no norte, a predominância são crimes sexuais e de posse de arma de fogo. Aqui, por ter forte influência da capital, predomina tráfico de drogas. Em ambas o desafio é o mesmo: conter a criminalidade com técnica e eficiência. Aqui em Mateus Leme a equipe é maior, o que facilita a realização de investigações mais complexas e serviços policiais de maior envergadura.

4. Juatuba e Mateus Leme tem um histórico de casos marcantes de violência contra criança e a mulher. Como tem sido o trabalho da polícia civil no combate a esses crimes?

A Polícia Civil de Mateus Leme possui uma parceria com as redes de proteção. Qualquer violência contra mulher, criança ou idoso é tratada como prioridade, despachada, instruída e enviada à justiça. Além disso, as redes de apoio fazem todo acompanhamento psicológico das vítimas. Nesta data, mesmo fizemos uma prisão em flagrante de um companheiro que agrediu a namorada, lhe ameaçou e a manteve em cárcere privado, mesmo já possuindo medida protetiva concedida pelo juiz em seu desfavor. Foi lavrado o auto de prisão em flagrante e o preso encaminhado ao estabelecimento prisional ficando à disposição da justiça.

5. Por sua localização, Mateus Leme acaba sendo ponto central de muitos crimes na região metropolitana. De maneira geral, qual sua opinião sobre a criminalidade no município hoje? Quais os principais desafios do trabalho da polícia na cidade? Acredita que a pandemia mudou o cenário de alguma forma? Se sim, como?

Eu assumi a Delegacia De Polícia De Mateus Leme em abril deste ano, no meio da pandemia. Apesar disso, com auxílio da minha equipe, busquei informações e dados estatísticos quanto aos crimes predominantes na região. A proximidade com a capital gera muita influência em Mateus Leme em crimes de tráfico de drogas, principalmente. O objetivo da Polícia Civil é reduzir os índices de criminalidade envolvendo drogas, pois isso que desencadeia diversos outros crimes como homicídio, furtos e violência doméstica.

A pandemia gerou um aumento de ocorrências policiais relacionadas à lei Maria Da Penha, pelo fato de as pessoas ficarem mais tempo em casa. Porém, cabe ressaltar que o aumento dos números também ocorreu porque as mulheres estão sendo mais incentivadas a denunciar os casos, acabando com a cifra de ocorrências que eram subnotificadas.

6. Recentemente, você foi responsável por conduzir a operação quem prendeu o vereador Reginaldo Teixeira. Esse caso gerou grande comoção na cidade, positiva e negativa, e também está rendendo muito trabalho à Polícia Civil, que já concluiu três inquéritos. Quais os principais obstáculos encontrados durante essa investigação e prisão? Como a Polícia Civil lida com a repercussão dos casos na comunidade? Isso dificulta de alguma forma o trabalho?

Quanto à prisão de Reginaldo, a dificuldade inicial era conseguir testemunhas que aceitassem prestar depoimento em razão do temor que sentem do investigado. Com a prisão dele, a questão foi superada e muitas pessoas procuraram a Polícia Civil para denunciar, tanto que foi possível finalizar diversos inquéritos policiais. Já foram concluídas duas investigações com o indiciamento do mesmo pelos crimes de homicídio. Ambos os inquéritos já foram remetidos à justiça. O autor permanece preso.

A repercussão na comunidade já era esperada por se tratar de pessoa muito conhecida e influente. O trabalho da Polícia Civil é isento de influências externas, seguimos a legalidade estrita em uma investigação policial com elementos técnicos e jurídicos. Logo, a comoção ou os comentários não influenciam nos trabalhos policiais. Independente de quem seja o autor, a Polícia Civil irá exercer sua função investigativa e técnico-judiciária.

7. Durante a sua trajetória profissional, teve alguma operação que foi mais marcante? Olhando para o futuro, quais os seus desejos enquanto delegada responsável por Mateus Leme e também enquanto profissional?

Já fiz diversas operações policiais, todas são marcantes pelo nível de atenção, dedicação e investigação que demandam. Na cidade de Rio Pardo de Minas, a polícia civil efetuou a prisão de um sujeito que exercia ilegalmente a função de médico veterinário e, durante um parto clandestino, ocasionou o óbito de todos os filhotes e de uma cadela. Esse caso foi muito marcante, pois sou defensora dos animais e entendo que todo tipo de exercício ilegal deve ser combatido.

Em Mateus Leme, por enquanto, foi a operação policial mais recente para cumprimento de oito mandados de busca e apreensão e um mandado de prisão. A operação envolveu mais de 50 policiais civis e a Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil (CORE). Demandou muita investigação e organização de todos os envolvidos. Esse tipo de operação será frequente na cidade, tornando a Polícia Civil protagonista na segurança pública, juntamente com a Polícia Militar.

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